brasileiros no reclaim brixton
Entre tantos lugares em Londres, Brixton é um dos mais documentados pelo Canal Londres. Não é por acaso. Existe algo de Brasil em Brixton. Mais especificamente, existe, de fato, uma conexão Bahia-Brixton. Maria dos Santos, baiana que, mais que morar, vive Brixton, é uma bela síntese dessa conexão.
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Um passeio por Brixton em Vídeo
Conexão Bahia/Brixton
Maria, que faz parte do Brixton Come Together, adotou e foi adotada por Brixton. E como parte de Brixton ela está totalmente integrada e comprometida com as pessoas que ali vivem e formam uma região da cidade que se distingue por uma riqueza de história e cultura muito peculiares. São os laços culturais e essa história que une os brixtonianos em mais um momento de resistência contra ameaças à sua sobrevivência. O movimento Reclaim Brixton não é um ato isolado. Para entendê-lo melhor, vale a pena uma volta no tempo.
História desde os romanos
A história de Brixton remonta aos tempos em que os romanos dominavam Londres. Devido à localização privilegiada, a estrada, construída pelos romanos, para ligar Londres ao sul da Inglaterra, passava por Brixton. Mas é só no início do século XIX que a região começa a ser populada.
A mudanças foram rápidas e, na segunda metade do século XIX, Brixton já era uma região de classe média. Para se ter uma ideia do impacto desse desenvolvimento, a Electric Avenue, em Brixton, ganhou este nome por ter sido a primeira rua, em Londres, a ser iluminada com luz elétrica.
Brixton pós-guerra
Outra grande mudança aconteceria durante a Segunda Grande Guerra. Brixton foi bombardeada, entrou em decadência e foi abandonada. Durante as décadas de 40 e 50, imigrantes começam a repovoar Brixton. Grande parte dessa nova população tinha origem afro-caribenha. Eles dariam a Brixton uma nova cara. Transformariam Brixton no que ela é hoje: uma região com identidade própria.
É uma história rica em cultura, mas também em luta. Brixton é sinônimo de resistência. Para ficar em um exemplo, no início dos anos 80 uma crise econômica, com altíssimas taxas de desemprego, afetaram diretamente os brixtonianos de origem afro-caribenhas. Como se fosse pouco, a forma como a polícia metropolitana agia, sob o argumento de combate à criminalidade, causava revolta na população negra.
Em abril de 1981, essa revolta transformou-se em um violento movimento de resistência. Cerca de 5 mil pessoas foram às ruas de Brixton e mantiveram um duro confronto com a polícia. Foram quase 300 policiais e dezenas de moradores feridos. Uma centena de carros queimados, entre os quais, mais da metade da polícia. 82 prisões.
Violência silenciosa
Embora pacífico, multi-étnico e multi-cultural, Reclaim Brixton não pode ser desconectado dessa longa história. A violência da especulação imobiliária pode não parecer, mas talvez seja mais perigosa que a violência policial. É mais sofisticado e, por isso, merece uma resistência mais organizada.
Não é ser contra o desenvolvimento. É ser contra uma determinada forma de desenvolvimento. O que Brixton não aceita é que os beneficiários desse modelo de desenvolvimento sejam indivíduos que nada têm a ver com Brixton. O que Reclaim Brixton advoga é o direito que Brixton tem de fazer suas próprias escolhas. É o direito de determinar a forma, o ritmo e os beneficiários do seu desenvolvimento.
Ao longo de mais de 7 décadas, Brixton construiu um patrimônio que pode ser vivido no dia-a-dia das suas ruas, nos seus mercados, no belo Brixton Village, nos pubs e clubes, onde a música de origem afro-caribenha pulsa nas veias de quem vive e ama Brixton. Essa riqueza não pode ser dilapidada por mero interesse financeiro. Quem faz Brixton ser o que Brixton é não pode ser simplesmente empurrado para a periferia por conta da localização privilegiada de Brixton.
Em uma conversa com Maria, ela afirmava, com razão, que “é inaceitável a imposição que se quer fazer, tentando estabelecer padrões de fora, negando a Brixton o direito de ser o que é”. Apaixonada por Brixton, ela sabe o que está falando. É por isso que ela tornou-se parte ativa da vida do lugar que escolheu para viver.
Maria representa muito bem tantos outros brasileiros e brasileiras, a exemplo de Carolina Nunes, Jansen Santana, Silas Giron, Nina Miranda e Mariana Pinho que, embora não sejam residentes, sabem o quanto é importante apoiar movimentos como o Reclaim Brixton. São brasileiras como Maria que fazem com que o Canal Londres também sinta-se parte dessa história. E a gente quer continuar a contá-la por muito tempo.