uma vida para o cinema
henrique goldman
Diretor de cinema, Henrique Goldman saiu do Brasil com apenas 19 anos. Com uma adolescência marcada pela rebeldia, ele logo cedo caiu na estrada. Primeiro, com apenas 16 anos, ele passou um longo período viajando de carona pelo nordeste brasileiro. Mais tarde, daria um salto ainda maior: fez as malas e foi para Nova Iorque.
Em uma época em que isso ainda possível, ele não teve dúvidas: ao chegar em Nova Iorque, vendeu a passagem de volta. Era um gesto que, de certa forma, anunciava o que estava por vir: em 3 décadas vivendo no exterior, Henrique Goldman só voltaria ao Brasil de férias ou a trabalho. A vida nos EUA duraria 1 ano, mesmo tendo casado para adquirir o seu green card e deixar a vida ilegal, ele cruzou o Atlântico e veio para a Europa. Mais precisamente, foi viver em Roma.

Henrique Goldman
Henrique Goldman em Roma
Roma, de certa forma, foi um divisor de águas: foi na capital italiana que ele começou a traçar o caminho para tornar-se um diretor de cinema. Se o interesse pelo cinema já existia, em Roma, ele também se interessou por teatro e, surpreendentemente, se apaixonou por Ópera. Mas a primeira oportunidade real de trabalho veio quando a TV Globo abriu a Tele Monte Carlo. Ele era o diretor do equivalente, numa escala infinitamente menor, como ele mesmo deixa claro, ao Jornal Nacional.
A oportunidade de dirigir o primeiro trabalho autoral viria com o documentário Os Hebraicos da Amazônia, logo no início dos anos 90. Com a repercussão desse trabalho, distribuído para diversas TVs na Europa e, no Brasil, pela TV Cultura de São Paulo, Henrique Goldman tomou a decisão de deixar a Tele Monte Carlo e empreender uma vida como diretor e produtor independente. Como tal, passou a dirigir documentários para a RAI, TV Italiana.
A mudança para Londres
Havia, no entanto, um dificuldade que não deixava Henrique Goldman confortável na italiana: a dificuldade de se adaptar a um país que não facilita a integração do imigrante, um certo provincianismo que o incomodava. Daí, nasceria a decisão de buscar um centro mais cosmopolita para viver: Londres foi a escolhida. Mesmo depois da mudança, ele manteria os vínculos com a RAI, para quem produziu documentários sobre italianos marginalizados em Londres e outros em Moçambique e Angola.

Frame do Filme ‘Princesa’
Em uma das suas idas a Roma, foi visitar uma livraria que costumava frequentar. Ali, foi apresentado, pelo rapaz que sempre o atendia, a um livro que o levaria à produção e direção do seu primeiro documentário. O livro foi escrito por um integrante do grupo terrorista Brigadas Vermelha, que, na prisão, decidiu contar a história de um travesti brasileiro que conhecera na prisão. A história daquele menino que sonhava ser mulher deu origem a ‘Princesa”, que narra o drama de travestis brasileiros que ganham a vida nas ruas de Roma e Milão.

Frame do Filme ‘Jean Charles’
Outro drama na vida de um brasileiro daria a Henrique Goldman a chance de dirigir o primeiro filme com uma co-produção anglo-brasileira: o assassinato de Jean Charles de Meneses em uma das estações de metrô de Londres. O filme representou um marco na carreira de Henrique como diretor de cinema. Era, de certa forma, uma volta ao Brasil, suas origens.
Em 2018, Henrique voltou ao Brasil para dirigir o longa ‘O Nome da Morte’, uma produção totalmente brasileira, que foi lançada em 2019. O filme conta a história de um homem de origem simples e religioso que, no entanto, guarda um terrível segredo: o trabalho de matador profissional que o levou a executar 492 pessoas.
O personagem principal é interpretado por Marco Pigossi, mas para o brasileiro que vive em Londres traz uma bela surpresa: o ator Marcelo Madureiro, descoberto por Henrique num açougue londrino, durante a produção de ‘Jean Charles’, também faz parte do elenco.